quinta-feira, 26 de outubro de 2023

O Porão

 

O Porão

 

Sentado em uma cadeira, amordaçado, amarrado.

 - Estou na casa dos Horrores.

- Espero por mais uma tortura, já passei por várias e, ainda suspiro, pois o meu coração cisma em continua batendo; já foram à pimentinha, uma maquina que dá choques elétricos nas genitálias, o pau de arara e o afogamento. Agora não sei se vai ser o sal nos olhos ou mais uma sessão de espancamento.

Querem que eu entregue um amigo que eu não conheço, querem que eu fale o que não sei.

E apesar de falar que nada sei; eles continuam a me manter em cativeiro e me espancam esporadicamente.

Nesse raro momento de paz, mas com o meu corpo inteiro dolorido, fruto, esse das grandes, longas e humilhantes torturas que sofri.

- Penso no passado e nas histórias de colegas de faculdade que sucumbiram nos porões da Ditadura Militar e me vejo na mesma posição. Nunca acreditei que um ser humano poderia tratar outro igual, dessa maneira que me trataram e tratam ainda.

- Pouco antes de ser pego pelo DOPS, eu estava deitado em minha cama lendo, quando a porta foi arrombada e pessoas encapuzadas entraram gritando e me batendo, passei por um corredor polonês, até entrar em um carro e ser encapuzado, depois disso eu vim parar aqui, só sei que se chama Casa dos Horrores.

E aqui estou privado dos meus direitos de cidadão. - Maldito AI-5, que tirou todos os meus direitos e de todos os brasileiros, na chamada missa negra em uma sexta feira 13 de dezembro – meus professores muitos deles sumiram – devem estar aqui ou já morreram; não sei, só sei que estou nesse inferno, nesse tormento, no escuro amarrado e ninguém pode me ajudar; os meus gritos não são ouvidos por ninguém e só posso me apegar ao estado de direito como se fosse um sonho, mas me questiono, que direto?

- Aqui, uns gritam, quais foram às siglas malditas que lhe prenderam! C. C. C., DOPS, DOI – CODI! - Mas agora isso não importa, pois estamos todos juntos na mesma merda! - Chorar? - Mera ilusão, não adianta, pois todas as lágrimas já secaram e o saudosismo é a única coisa que se faz presente, aliás, é a única coisa que eles não podem nos tirar, pois todo o resto eles já conseguiram, integridade, orgulho e humanidade.

- Lembro-me das passeatas, a dos Cem Mil, no Rio de Janeiro, com vários cantores engrossando as fileiras de protesto; lembro-me do calabouço e a morte de Edison Luiz, o estopim para a juventude estudantil lutar, pois tínhamos um cadáver do nosso lado, e a impressa divulgava tudo isso.

- Mas de lá pra cá, muitos jovens já pereceram em combates ou nos fétidos porões da Ditadura, uns nas guerrilhas urbanas com grandes feitos, mas com pouco efeito, lembro do seqüestro do Embaixador Americano – ah! Isso foi um golpe de mestre do MR-8, mas com pouco resultado para a causa em si, mas nos mantendo vivos na luta pela liberdade de direto, a guerrilha do Araguaia, onde muitos morreram tentando livrar esse país da opressão, mas tudo isso esquecido pelo tri da seleção.

Mas agora nada disso importa, pois estamos aqui, todos juntos. Aqui tem tantos Joãos, Pedros, Paulos e Marias, todos sem identidade verdadeira, - mas o que isso iria me adiantar nessa hora? -  Não nos respeitam, até parece que não somos brasileiros. Eu sou mais um nesse aglomerado de nomes esquecidos e guardado em mais um porão empoeirado.

 Pois é, sei que logo vou morrer e a minha família nada saberá, sumirei virarei pó; mas se alguém me perguntar, se tenho esperança, responderei – ela é a última que morre; porem é a primeira que mata – mas ainda continuaria tendo esperança em uma Pátria livre e justa, para os brasileirinhos que hão de vir, e lutaria de novo por esse sonho que apesar da sua breve existência não morreu; por hora padeço nesse porão no ano de 1971, que para mim não terminará.

 

Francisco Maia..........................................23/02/07

domingo, 5 de março de 2023

Love.

 

Love.

O amor que sinto não pode ser medido,

Marcado, multado, escrachado.

O amor que eu sinto não está escrito,

Não tem estrela, nem céu, lua.

 

As noites são longas e suaves,

As minhas mãos não são mais tremulas,

O dia é inteiramente voltado buscando a paz,

Não tenho mais medo de existir.

 

Teus olhos ao amanhecer são luz,

Teus olhos ao anoitecer são luz,

A escuridão é a falta dos teus lábios.

 

O teu cheiro é o meu guia,

Minha alma é tua, e a noite é nossa,

Iolanda o meu amor está escrito.

 

Francisco Maia.

 

sábado, 4 de março de 2023

Narciso.

 

Narciso.

 

Uma sombra escondida no orgulho,

Uma névoa escondendo os olhos,

Uma triste ilusão de maquiar a tristeza,

Orgulho de ter o que não te pertence.

 

Sentido de pertencimento, de sujeito, subjetividade,

Sujeito à ação de outros, ou ao próprio ego,

Subjetividade construída por um equivoco da vida,

Pertencendo aos sonhos de outros nesse mundo.

 

Trilhando escondido, os caminhos tortos,

Pousando teus olhos em outros sujeitos,

Pensando orgulhosamente  naquilo que não te pertence.

 

Sabendo que a vida curta te molda a subjetividade,

Que a ilusão te deixa às marcas de felicidades,

Já o teu ego?  Esse ego? Que triste ego!

 

Francisco Maia.  

quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Arquitetônico.

 

Arquitetônico.

 

Hoje deu vontade obrar,

Vou dar uma obrada, igual, tal qual,

O mito, o moço que de baixada, teve

A marquesa de santos, e fez obrar no Ipiranga.

 

O peixe morre pela boca, o obreiro pelo

Negacionismo, astrológico, ignóbil guru!

Torturados são os perdidos em liberalismo

Em um mundo neoliberal, perda de perfume.

 

Cheiro que não sentimos, sabores e saberes,

Almas levadas, corpos mortos, são bem mais que mil.

Morrer é votar, morrer é acreditar no ignóbil guru!

 

Obras feitas, obras entregues: 190.000.

De máscara segue os/as heróis/heroínas

Que não deixam a sua família perecer.

Francisco Maia.

Ano fim.

segunda-feira, 23 de março de 2020

Serra Pelada do Século XXI.


Serra Pelada do Século XXI.


Olhei o buraco, observei que tinha gente cavando,
a cada dia ele ficava mais fundo.
Quando essa gente vai perceber que estão cavando
Por outras pessoas e, que esse buraco é sua cova?


Quando essa gente vai perceber que aumentar o buraco
só vai derrubar mais gente lá embaixo?
No buraco não tem água, não tem ouro, nem objetivo,
Não vai demorar para o sol desaparecer.


O buraco está ficando fundo, vai ficar muito difícil de sair.
Tem gente que prefere um buraco fundo pensando que não vai cair,
Ou um buraco largo para que tenha muita gente lá dentro (não eles ou os deles).
[Em um buraco largo e fundo cai todos.


Tem, também os que prefere o buraco largo e fundo,
Assim pode jogar mais gente lá dentro para mandar cavar.
Quem manda cavar o buraco não quer ir, quer empurrar,
[ diz que o buraco é para que “eu” me sinta confortável lá.

Francisco Maia.

sábado, 7 de março de 2020

Tropa de mula.


Tropa de mula.

É uma surpresa, uma para você e outra pra mim.
Cheguei do jeito que era, chegando.
Sem medo ou mesmo noção, só cheguei.
Disparei, eu fui em frente, não tinha trajetória.

Mas eu sei, que não quero ser como você,
Não quero dar trajetória para ninguém,
Não quero ser surpreendido, pois sei,
Que a trajetória tem muito mais que só
[perspectivas alheias.

Ser cravo de casco, é segurar a ferradura,
Mas ser o coice  é lança-la ao esmo,
Ser o impacto, é transformar o objeto.

Mas a transformação é dá dor,
Ser cravado na carne é incomodar
Mas incomodar te obriga a pensar, mudar,
[transformar, ser coice.

Francisco Maia.


Seleção Natural


Seleção Natural.

Começo o texto pelo final, a morte do moribundo.
Somos dignos de pena, por querer ser quem não somos.
Uns com uma pena maior, por negar,
Outros com uma pena menor, por aceitar.

Andando pelas veredas da vida, lutando por justiça.
Vendo a morte cutucando a minha pobreza, e lutando pelos meus,
Percebendo o quanto pobre que minha alma é, deixei os meus,
Sonho um dia ser rico e, de pé louvar a minha aceitação.

Quando rico (de capital), em pé selecionei,
Fui selecionado, tinha dinheiro, mas não tinha classe,
Quando percebi, eu era um pobre com dinheiro
[e sem classe].

Olhei, tentei voltar, fui no encontro, lutar como antes.
A minha classe já tinha ido embora, não tive dignidade por ela.
Eu era o próximo a ser exterminado, deveria ter brigado antes.
[de alma e corpo].

Francisco Maia.