Trago.
Andando na impura sobriedade,
Foi assim um ser calado, com as mãos tremulas,
Um homem perdido em sentidos incrédulos,
Pisando com pés equivocados na lajota.
Com a cabeça baixa as vozes lhe ocupavam a mente;
Com a morte em sua frente o peito se enchia de fumaça:
- Queres um trago? – singela morte!
- Queres um trago? – aceite seu hipócrita!
- Não aceito, não! Pois quero ta aqui quando
Você morrer, e não ir junto, eu que vou te fumar...
... O meu trago é o sopro de vida que tu tens.
O calado homem ficou sério ouvindo os murmúrios
Em sua cabeça, sem ao menos pestanejar ele sacou
Do bolso outro cigarro, acendeu e falou em voz alta.
- Esse é para ela que vai tragar a minha alma,
Já esse trago que dou é para mostrar que
Não é só ela que sente prazer na vida que se vai.
Francisco Maia.