Só o que te sobrou.
Quando se nasce pobre, te sobra ser forte.
Quando se nasce negro, te sobrou ser forte.
Quando não te sobra o pão, engana-se a fome.
Quando não te sobra a água, engole-se a saliva.
Quando não se pode ir ao centro, te sobra a periferia.
Quando não se pode ir a praia, te sobra o morro.
Quando se vive esquecido, te sobra a sombra.
Quando se vive acuado, te sobra a raiva.
Do Norte ao Sul falta-te o sopro de vida.
Chora a criança faminta, das tuas lágrimas
A única gota de água na terra.
Engana-se com a política;
Ainda desce o morro de chinelo para o asfalto,
Sem pisar descalço na areia.
Sorri para o clarão, no escuro,
Do estouro, sobra-te a reza,
A flor e a vela;
Cova e um número de indigente.
Francisco Maia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário