sexta-feira, 8 de setembro de 2017

III Séculos de Vida.


III Séculos de Vida.

Vim de África, Ogum, Oya, morri no novo mundo,
Mudei de alma, e orei para São Jorge e Santa Bárbara,
Deixei o meu mundo, dancei no terreiro, chorei na senzala.
E doei sangue no pelourinho, soei chibatadas.

Corri um pedacinho de terra, parei em Palmares,
Lá fomos todos iguais, morri por Zumbi e Dandara. Morri pela liberdade!
Caminhei em alma crua nos sertões, pés machucados.
Extraí ouro nas feridas abertas no veio da terra, feri minhas mãos.
Lombo, ardeu, ardeu, fui para Piratininga.

Colhi café, raspei terra, andei, andei, era tudo do sinhozinho,
Apanhei de vara de marmelo, morri novamente, sofri, doeu, sou negro.

Meus olhos abriram, renasci. O soluço, o choro, a morte não tinha me levado,
A vida veio, eu nego com a liberdade Áurea, dois artigos e nenhuma justiça social.
Subi o morro, correram com a gente dos cortiços, não me deram emprego, não sei ler.

300 anos de escravidão, muitas mortes e muitos nascimentos, muita dor.
130 anos do fim da escravidão, não sinto a liberdade, vivo sem muitos direitos,
Os quais são privados, ainda são reclamados, ainda luto por liberdade, justiça e igualdade.

O meu grito não é mais um gemido amordaçado, o meu grito é a revolta.
O meu medo não é da morte, o meu medo é da injustiça.
Não nasci no novo mundo, eu renasci no Brasil.

Eu cresci reencarnando, hoje sou forte, sou negro, sou brasileiro.
Não vim porque quis, mas estou aqui para ficar.
Me respeita, pois aqui também é meu lar.


Francisco Maia.


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