domingo, 12 de novembro de 2017

O Torturador.

O Torturador.
Parte I

Depois de tanto ter matado, eu não sinto mais a dor. O sorriso escapa quando vejo alguém implorando. Vejo poder, sei o que fiz e o que gosto de fazer, matar, tirar a vida, olhar o outro de joelhos e gargalhar quando ele me implora pela própria vida. Vivi em um orgulho tremendo, dinheiro, poder, mulheres. Vivi a minha vida à custa da morte do outro. Morte, morte, lindo nome para um filho.
Sinto a minha cabeça doendo. Pulsa!  Esse pulsar não para de doer, o sangue me cega à visão, não encontro mais o meu caminho, não tenho caminho, olho a escuridão, olho o vermelho do sangue que não para de jorrar, olho meus pés e vejo nada além de lama. Uma lama espeça, grudento, vejo vultos, escuto gritos. Olho para o céu, o céu não esta mais lá, é escuro, não tem lua, nem sol, não tem 24 horas.
Procuro a minha pistola 9mm, não esta na minha cintura, tento correr não consigo, os pés estão presos na lama, vejo pessoas se aproximando, elas gritam o meu nome, parece que me conhece e me odeiam. Véio, tô na merda.  Fui alcançado e brutalmente espancado, fui jogado de cara na lama, fui sufocado, açoitado, gritava por perdão, nenhuma alma me escutava, as pessoas ali queriam me ver sofrer. Perdi o meu poder, o meu orgulho, implorei, chorei, ajoelhei, mas, aqueles caras não estavam a fim de me ouvir, se sentiam orgulhosos por me ter em suas mãos, gritavam para o espaço que tinham se vingando.
Colocaram uma corda em meu pescoço, e me arrastaram para todos os lados, eu engoli muita lama, até que pararam, não conseguia ver muito bem, a dor era muita, estava todo cagado, mijado e não tinha mais lágrimas para chorar, parecia uma criança sem a sua mamadeira. Sempre fui mimado, hoje estou no escuro sozinho, não tem uma pessoa que me venha mimar ou puxar o meu saco.
Os gritos param! O silêncio! Esfreguei os meus olhos! Consegui ver! Era uma luz fosca, era uma muralha? Uma cidade? Como poderia ter uma aqui? Não conseguia entender nada, nada. Eu estava saindo de casa, estava no meu carro e do nada eu estava ali, no escuro me fodendo todo. Que porra é essa? O portão abriu! Fez um barulho ensurdecedor, saíram lá de dentro um povo bem estranho, não eram humanos, eram figuras bizarras, carrancudas, bravas e percebi que maldosas, fui entregue a eles, e as pessoas que me carregavam falaram. Foi feito! A morte cobra a sua vida em vida. Não tinha a mínima noção do que eles falaram.
As duas figuras não humanas me pegaram pelos braços e levaram para dentro da cidade, por onde eu fui passando tinha gemido, tinha dor, era desesperante, o que ia acontecer? Véio eu literalmente estava na merda. Deixaram o meu corpo sem força em um pátio, todo mundo passava e mijavam em mim, me chutava, eu não tinha mais força, só sentia dor e mais dor, os meus gemidos ecoavam entre as muralhas, parecias dias que estava jogado ali sem água, pão, sem nada. Foi quando as duas criaturas voltaram, me pegaram e levaram, achei que o suplício tinha terminado, mas não. Deixaram o meu corpo quebrado em um quarto, e um senhor se aproximou de mim, disse ele, não me esqueço. Tu gostava de torturar, hoje tu vai realmente aprender a torturar. Colocou a mão em minha cabeça e tudo veio com clareza. Eu tinha sido executado. Eu morri na frente da minha mulher e filha, eu o matador, eu o torturador, a autoridade da Obam tinha sido executado, eu não valia bosta nenhuma, tinha sido justiçado como dizem os que eu torturava.
Agora tudo faz sentido, os rostos daqueles que me trouxeram aqui me fez sentido, eu conhecia eles, eu torturei e matei. Comecei a perceber o que eu era e como trazia dor, como gostava de poder fazer aquilo, ter poder sobre a vida e a morte, poder sobre a dor, poder sobre o sexo, eu decidia se queria ou não. Quem morria ou não.
Agora sou eu sentado em uma cadeira, mas ela não é do dragão, ela tem pontas, e os meus algozes são todos estranhos, são figuras esquisitas, parecem bichos. Toda hora eles me falam que eu vou ser um bom torturador, por isso que me torturam, para eu aprender.
Francisco Maia.