sábado, 15 de dezembro de 2018
O menino religioso da internet.
Crônicas de um morto.
Esvaziei o meu corpo, não tinha
mais nada pulsando nele, o sangue coagulou nas veias, os nervos amoleceram e os
músculos enrijeceram, não lembro ao certo, sei que o corpo estava na vala,
cavado com uma enxada, uma cova rasa, olhei de cima e vi que esse ele era eu,
meu corpo.
Andei, e me sujei mais do que já
era, desci com a alma suja, uma sujeira que não adiantava lavar, um risco de
moral é o que brilhava na minha veste resgada, encontrei um ser estranho, não
era humano, era uma fera, de correntes dobradas no pescoço, tinha um rugido de
besta, uma besta que me agarrou pelo braço, um apertar forte, tão forte que parecia
que ia arrancar ele fora. Olhou bem nos meus olhos, soltava uma brasa das suas
ires, uns dentes atravessando os lábios. Me puxou, me acorrentou com as
correntes que trazia em seu pescoço e me fez andar a base de chibatas. Apanhei,
apodreci, desfaleci por muitas vezes, os dias eram eternos, as noites nunca
sumiam de lá, e eu sendo violentado sexualmente por esse e outros seres.
Tinha que fazer de tudo, virei um
escravo, me ferrei todo. E começava a lembrar da minha vida na terra e comecei
a perceber os meus pecados e o motivo de estar sofrendo tanto. Não existe paz
depois da morte pessoas. Carregamos conosco o nosso preconceito, a nossa arrogância,
os nossos privilégios, que lá não são privilegiados. Morrendo não só viramos
comidas de vermes, mas vermes prostituídos, sem gêneros, só prazer para satisfazer
aqueles que nos estimularam a cometer os nossos erros e ainda acharmos melhores
que os outros.
Nunca mais na minha eternidade,
nunca mais, cometerei o erro de julgar e agir de forma equivocada e sem amor só
por que estava no meu quarto, no meu computador, em uma rede social. E achei
que o odiar me livraria do inferno e me levaria para o céu. Fui para o inferno
por mandar pessoas diferentes ir para lá. Eu nunca vi ninguém diferente, só vi iguais e,
percebi que a minha moral e religião só fez de mim um instrumento de abuso e
violência. O meu corpo virou um bagaço de laranja no salve que levei nos porões
da cidadela do meu ídolo Ustra.
sábado, 15 de setembro de 2018
Viver livre é libertar.
Viver livre é libertar.
A história não se repete,
ela não é cíclica, mas utiliza de roupagem do passado, os acontecimento são
semelhantes, sempre tem um “quê” de moda retrô. As pessoas são diferentes, o
contexto, tecnologia, sociedade, economia e política. Bem, a política continua
entoando o status do passado.
Analisando brevemente o cenário político do Brasil nesse momento, consigo
observar heranças, permanências e poucas mudanças. Não precisamos nem recorrer
a Hitler, podemos olhar o Plano Cohen, podemos ver a
Marcha da família com Deus pela liberdade, para perceber o que está
acontecendo, mas só que agora não são os católicos que outrora eram os
opressores, agora são os oprimidos.
Uma
democracia servindo de base para um autoritarismo, um mantra sendo entoado,
tudo culpa dos “comunistas”, sem que as pessoas saibam o que é a teoria, e
muito menos demagogia. Uma democracia
sendo subjugada por um candidato que não vai assumir, quem vai assumir é o seu
vice, e seu vice é, o que por muito tempo já esta escrito na nossa história, um
passado militar, aclamado por uma população que viveu a sua liberdade sem saber
o que fazer com ela, que estão ficando velhos, morrendo, sofrendo com as
recordações de suas liberdades e erros, pedindo perdão para o pai, voltando
para casa e aceitando os seus castigos, pois foram imprudente, perdão meu pai!
Estou
preocupado com o meu Brasil, não quero que os meus filhos fiquem sem provar a
liberdade que um dia tive, só por me sentir culpado por ser livre. A história
não é cíclica, ela tem uma retrô, vamos fazer esse desfile ser do século XXI e
não do XX.
Francisco Maia.
domingo, 2 de setembro de 2018
Formação de uma nação.
Formação de uma nação.
Nascer nativo, eurocêntrico, um índio.
Nascer afro, eurocêntrico, escravo.
Nascer eurocêntrico, imigrante, eugênico.
Nascer brasileiro, nascer colonizado.
Pensar que sou descendente de nativos,
Pensar que lutaram contra a colonização,
Pensar que Cunhabebe lutou na confederação.
Tamoios traídos por um padre, Anchieta.
Pensar que sou descendente de negros,
Pensar que lutaram contra a escravidão,
Pensar que zumbi e outros quilombolas lutaram e morreram.
Palmares o melhor exemplo de resistência. Resistir, sempre!
Pensar que sou descendente de europeu,
Pensar que colonizaram, mataram, massacraram,
Pensar que por causa do lucro, humanos viram mercadorias.
Por causa da fome muitos anarquistas vieram para o Brasil.
Pensar na formação da classe operária,
Pensar na constituição do questionamento,
Na fome europeia de dois séculos,
Penso no imigrante, penso no irmão humano,
Somos venezuelanos, haitianos,
Somos brancos, negros, vermelhos,
Somos do mundo inteiro, somos brasileiros.
Francisco Maia.
Meu tudo.
Meu tudo.
O amor, o que seria ele?
O amor, o que seria ele sem você.
Minha amada, você é tudo que eu tenho,
Meu sorriso, minha mágoa, minha vontade de viver.
Amada, o amor resume em seus seios, seu colo.
Hoje penso, sinto, a saudade, o banzu,
A tristeza de ter que viver longe de você,
Todo dia eu espero chegar para te ver,
Te amar, te abraçar, ficar de
bobeira.
O sorriso quando chego, o sorriso do filme bobo.
O beijo açucarado de teus lábios, os teus lábios
De carne macia, de seda asiática, de mel arapuá.
Minha Iolanda, musica de Chico, de Francisco.
O amor ele tem idade sim, e
momento, esse momento é te amar
Viver ao seu lado é ser privilegiado. Iolanda, Iolanda.
Francisco Maia.
domingo, 12 de agosto de 2018
O Aborto.
O Aborto.
Minha mãinha, mãe, onde estará
agora? Mãe sinto falto do seu útero.
Minha mãinha, eu te esperei,
andei, procurei por todos os cantos, mas nessa nova moradia não te vi, a
senhora não veio me visitar, esqueceu que eu um dia fiz parte de ti. Minha mãe
não sei se a senhora foi ceifada como eu fui, não sei se a senhora não passou
pelo meu recorte póstumo, mas saiba mãinha que ainda vou renascer, desta vez
não vou ser abortado, vou, eu, abortar.
Andei por vielas, ruas escuras,
amei a noite como ela me amou e ainda ama, perdi minha mãe, deixei ela
descansando no sofá assistindo a sua novela preferida, despedi com um beijo
quente que sai de dentro para fora, um calor intenso, eu sabia que era o último
beijo que lhe daria na minha breve vida. Fechei a porta, olhei para trás e
sabia que não voltaria mais para aquele lar, casa que muitos dizem ser um
barraco, desci a rua da comunidade, muitos dizem favela. Um depósito de pessoas
desprovidas de recursos para morar em bairros nobres, muitos dizem ser o mérito
de cada um, não sei se isso tem preceitos, mas acredito que cada um é fruto do
útero que foi gerado, como aprendi na escola, o bem parido (eupátridas).
Cheguei na esquina e parei para
conversar com os meus amigos, todos nós estudamos juntos, cada um numa vida
diferente, meninos do morro, riamos com uma piada e no fim dela o estrondo, o
barulho rompeu a noite silenciosa. Estou eu caído no chão, um projétil perfurou
o meu abdome com um furinho e deixou um buraco do tamanho de uma laranja da
minha costa, senti muita dor, o gosto do sangue vinha em minha boca, cuspia
sangue, mais sangue vermelho jorrava da ferida aberta de minha barriga. Hoje por onde ando estou coberto com esse
vermelho, esse cheiro de sangue que não consegui me limpar, procurei lavar,
esfregar, mas não posso cortar o meu corpo, ele sujo de sangue me faz lembrar
do meu aborto.
Nasci em uma casa humilde, sem
pai, com outros 5 irmãos, eu era o caçula não tinha quarto, a casa na verdade
era um barraco tinha três cômodos, um quarto, sala e cozinha, dormia com minha
mãe, não tinha café da manhã, eu tomava na escola, quando tinha. Eu nunca via
minha mãe, ela trabalhava na casa de uns doutores e tinha alguns finais de
semana que ela ficava para cuidar dos filhos dos seus patrões, eu recebia os
cuidados da minha irmã mais velha, era ela que me levava para a escola, cozia,
banhava-me e colocava para dormir. A minha irmã me tornou a minha mãe. Mãinha
era mãe de outro e mucama de nossa, não de mim. Cheguei na escola um dia com
tanta fome que desmaiei, não conseguia me concentrar, nem aprender, eu me
achava um burro, sendo colocado de lado, nunca tinha sapatos, o meu chinelo
estourado e remendado com prego, chorava, não aceitava ser tão miserável assim,
tal miséria era brutal, a minha mãe não estava comigo. Por sermos pobres ela,
para conseguir um pão dormido que sobrava do café do patrão ficava ausente e,
eu, ficava sozinho nesse mundo de meu Deus. Os meus irmãos tentavam me ajudar
da forma que podiam, um vinha com um chinelo novo, outro com comida, outro com
uma camiseta, outro com a vontade de ser o meu pai. Ele ia para o asfalto com
seus 13 anos vender balas de goma para me dar o que ele não teve. Eu tive uma
família, não tive pai ele também me abortou, abandou e nunca me ajudou, nem
ajudou os meus irmãos.
Fui abortado no dia 23 de
dezembro de 2010, com os meus 17 anos, estava indo na casa da minha namorada,
eu era um guri pobre de um morro do Brasil. O tiro saiu da arma de um agente do
Estado. O disparo foi feito como o controle dos hilotas de uma política
austera, de uma Grécia Clássica. Vago todos os meus dias nesse terreno de
moribundos, esse cemitério, chão de todos, chão da humildade, da caveira, onde
os vermes são os afortunados. A minha felicidade é da tristeza daqueles que não
se desapegam do seu corpo e sente as picadas dos vermes, normalmente são os dos
bem nascidos que não deixaram a mordomia da sua vida, a minha tristeza é ver os
de classe inferiores se apegando as suas prestações. O meu tempo como guardião
dessa calunga terminou, vou deixar o senhor Atotô decidir quem vai ser o novo
porteiro, pois vou voltar para essa vida e terminar o que não comecei, vou
abortar o maior ceifador de vidas. Vou abortar o Estado, nem que isso
signifique ser guardião novamente.
Quem sabe eu possa encontrar a
minha mãinha, possa andar novamente na minha favela sem sentir que ela é
desigual ao asfalto tão cobiçado. Quem sabe o meu amor pela noite continue sem
ter que avisar os meus amigos de infância que eles foram abortados e que a alma
deles vão voar e seus corpos vão virar um banquete, possa avisa-lo que vamos
resistir e realmente dar o poder para o novo povo. Ainda não vi minha mãe!
Então vou ser o seu neto.
Francisco Maia.
domingo, 5 de agosto de 2018
Crônica de uma tragédia anunciada.
Maria compra uma arma... João pega essa arma, já que Maria não compra a arma sem João saber... João pega a arma de Maria... João atira em Maria e foge... João, olha só o coitado do joão, atira em um cidadão de bem por causa de um acidente no transito. João atira no Fernando, pois João bateu no carro do Fernando e, João é absolvido, pois Fernando tinha uma arma, mas, não teve tempo de usar, mas, ameaçou João, que já sabia que Fernando tava armado. Maria mãe de Fernando chorou, Maria era casado com João Fernando que tinha um 38. João Fernando acredita que o Tauros é a extensão do seu pênis, João chorou...
Francisco Maia.
Francisco Maia.
sábado, 14 de julho de 2018
Amiguinhos do presente.
Amiguinhos do presente.
Todo e qualquer filho da História, deve;
Analisar o homem em seu tempo,
Perceber que tudo é um processo,
Nada é fato de nada, morte não é permanência.
Filhos da História não acreditam em milagres,
O milagre é muito, muito conservador para...
Quem é sufista, quem surfa na onda
Do reacionarismo, do meu e não do seu.
Filho, você é História, subjetividade,
Nasceu, cresceu, herdou a morte;
Professa a sua herança mental, contra e amarga.
Amiguinho, esqueça a maldade, o seu certo.
Olhe direito os padrões, se não pode jugar o
Homem no passado, por qual motivo quer julgar
O ser humano no seu presente!
Francisco Maia.
sábado, 7 de julho de 2018
Dona.
Dona.
Olha a morte, ela caminha entre nós,
Fita com seus olhos os amantes da vida,
Suspira em ouvidos, chama, clama,
Ela te beija, pega pelas mãos e leva.
Senhora morte, de coração tão duro,
Não leve as pessoas, elas torcem pela vida.
Senhora morte, deixe os felizes, leve os tristes,
Mãe dos desamparados, detentora do infortúnio.
Qual seria o motivo de levar pessoas felizes?
Morte, o clamor por
desaparecer dessa vida
Não significa virar comida de vermes e triste.
O glamour de deixar de existir a tristeza é perceber
Que sem ela ninguém saberia o que é a felicidade,
Morrer é um instante e a morte o sorriso do minuto.
[Dona Morte não leve os tristes, eles vão ser felizes].
Francisco Maia.
quinta-feira, 31 de maio de 2018
Poema desenhado.
Poema desenhado.
Vou falar um “bucadinhu” sobre essa tal classe média.
Todos que não possuem o meio de produção são trabalhadores.
Todos que não são funcionários públicos com estabilidades
são proletariados.
Todos que vende a sua força de trabalho para sobreviver é
explorado.
O trabalhador é o produtor de riqueza. É aquele que consome
com o seu
Tempo de vida, é aquele que ganha o salário pela sua venda.
A tal classe média é trabalhadora, ganha o seu salário pela
sua mão de obra.
A tal classe média se for mandada embora, no dia seguinte
não paga suas contas.
O médio é quem fica no meio, na realidade é quem está
embaixo.
O médio é quem gera a riqueza, produz na sua alienação.
O médio é quem é
exaustivamente explorado e humilhado.
A classe é um grupo que se identifica com o seu semelhante.
A classe é quem percebe a necessidade dos seus iguais.
A classe não aceita que seu irmão seja subjugado pelo dono
da empresa.
Francisco Maia.
domingo, 13 de maio de 2018
Estruturando o sujeito.
Estruturando o sujeito.
O sujeito está morto, não?
O sujeito foi vencido, não?
As estruturas é que nos guiam, não?
Somos vívidos em lutas de classe, não?
O sujeito foi condicionado pelas vontades,
Foi vencido pela sua necessidade de sobreviver,
As estruturas ensinaram ele a obedecer,
Não aceitamos essas leis injustas, somos classes.
Somos estruturados em uma regra que não existe,
Somos mortos, que trabalham para ser olhados como produto,
Somos sujeitos, sujeitamos aos outros, para sobreviver.
Existe sim uma luta, um sujeito, que não enxerga,
Existe sim um classe que não se vê como classe,
Existe sim uma história do sujeito estruturado.
Francisco Maia.
domingo, 6 de maio de 2018
Homenagem.
Homenagem.
O silêncio da noite é rompido!
Um cigarro voa aceso pela janela,
Toca o solo com um impacto de quinze metros,
Um beijo de vida encontra o seu fim.
A noite ecoa nos cantos das sarjetas,
O rato passa na escuridão, luzes apagadas,
O terreno baldio é entulhado de pessoas,
Isqueiros acesos, um musical de almas.
Perdidos nas pedras que pisam, são criaturas
Criadas pela vida que passa ao lado, ela,
Não vê os trapos jogados pegando pontas.
As pontas que restam, são, uma sociedade
Demente entre carros e vinhos, pães e queijos,
Olhos nos jornais, verdades que são mentiras.
Francisco Maia.
terça-feira, 1 de maio de 2018
Poema.
Poema,
Corro, mundo, corri. Medo, medo.
Corri sozinho, te encontrei, foi um segundo.
Te encontrei, não era minha, não era teu,
Nunca fui. Perdido no soluço.
Meu amor, percebi que os teus são os meus.
Meu amor, meu amor.
O meu mundo é o seu, teu é meu soluço,
Sou gago, sou tremulo, sou medo, sou teu.
Francisco Maia.
O Cidadão de Bem.
Crônicas de um Morto.
O Cidadão de Bem.
Existe um vazio, existe um mundo
paralelo, eu nem usei drogas, bem o que seria droga? Hoje penso... Droga é
viver. Por Deus que não me encontrou, por Deus que me deixou, por um Deus
humano, um de carne e osso. Não tenho mais ossos, fui devorado e assisti, merda
(blasfêmia). Merda. Sou merda de vermes, fui comido, devorado, senti dor,
rezei, ninguém apareceu, apodreci, fedi. Cara! Merda. Achei a minha vida toda
que era um cidadão de bem.
Cresci em uma
família religiosa, senti a religiosidade, eu acreditei que tinha que fazer
igual o meu pai, pensei que seria amado, seria louvado, alcançaria os céus. Me
fodi todo, não tenho mais pudor em falar palavrões, estou com pessoas, almas
que praguejam toda hora, gemem, sente dor, isso é de enlouquecer. Parem. Eu
grito.
Sempre segui as regras que me beneficiavam, eu era
moralmente correto, eu dava conselhos, eu orientava casais, era uma pessoa que
trabalhava, classe média, eu não tinha a minha indústria, mas trabalhava
bastante, e o meu patrão gostava, na verdade era o meu gerente, nunca vi o dono
da fábrica. Eu sempre fui competente, e recebia um salário bom, eu era classe
média. Pena que quando percebi que empregado não é classe média era tarde de
mais, fui mandado embora e os meus rendimentos sumiram, passei necessidades,
mas não me importei, sou fiel a Deus, ele me proverá, bati as minhas panelas
e o emprego voltou a bater em minha
porta, lutei contra a corrupção do meu país. Tinha esse falso orgulho, seria eu
um cidadão de bem naquele momento.
The Doors.
Deixei o meu caixão, foi muito
duro abandonar o meu corpo podre, deixei o que eu era em vida. Parti, andei,
tudo era nebuloso, escuro, batia a fome, não tinha comida nem água, via pessoas
gritando, um horror. Eu não era daquele
lugar, por qual motivo estava ali? Vi uma porta e nela tinha uns sentinelas,
soldados, fui questionar, por qual motivo eu estava nessa penúria? Eles riram
da minha cara, e me acorrentaram. Fui levado arrastado para dentro de uma
cidade, essa cidade parecia um antro de perdição, tinha tortura por toda parte
e prostituição, tinha dor e gemidos, uns tão constante que atordoava a própria
alma.
Andei por horas, me levaram por
toda a cidade, servi de chacota para todos. Me olharam, riram, jogaram merda,
(fezes humana), aliás a cidade toda fedia a enxofre e dejetos humanos.
Deixaram-me na frente de um trono, uma cadeira dourada que tinha umas tochas
acesas do lado, fiquei ali de joelhos, o meu corpo estava todo ralado, me
puxaram pelo pescoço quando não consegui andar, me arrastaram por todas as
ruas, me senti humilhado por pessoas que eu acho inferior, bandidos,
prostitutas, malandros e favelados.
Passei a noite toda jogado na
frente daquele trono, não tinha sol, não tinha hora, o tempo não passa aqui, o
sofrimento é árduo, mas na minha cabeça já tinha passado uma noite toda, apesar
de não ver o sol rompendo as trevas da noite, eu estava em trevas e não
entendia o motivo, cara! Eu sou um cidadão de bem. Os gritos de desespero e os
gemidos aquietaram, o silêncio tomou conta do ambiente, tudo quieto, uma
quietude ensurdecedor, corroeu a minha alma esse silêncio. Rompeu a escuridão o
estrondo de uma gargalhada, o silêncio dos gemidos e gritos ainda continuou,
parecia que o medo tinha cheiro, e todos ficaram trêmulos diante da gargalhada.
O trovão veio em forma de berro. Quietos, sou o seu Senhor e vou falar agora.
- quem é esse trapo que esta na
frente do meu trono?
E uma mulher falou.
- é o cidadão de bem.
As gargalhadas entoaram, era uma
musica horrível, risadas e vaias vindos de todos os lados.
O grito veio mais uma vez. –
silêncio. A voz afirmou.
E me
foi permitido falar. Eu questionei o motivo de estar nessa miséria, sendo que
eu sou um cidadão de bem. É um teste pela minha fé? Eu quero falar com o Cristo
ou com quem manda nisso, não tem graça fazer isso! É uma brincadeira de mau
gosto, eu sempre fui correto, sempre fiz tudo conforme a moral e a ética dos
escritos. Eu sou um discípulo.
E o homem vestindo vermelho, com
aparência demoníaca me interrompeu com um risada e logo com uma palavra. –
Calado seu puto.
- quero ver os autos desse pau no
cú.
Foi quando uma figura que não
parecia homem e nem mulher levou para ele um livro grande. A figura demoníaca
me olhou e balbuciou. – Eu que mando aqui, tive várias vidas, e preferi viver
nessa cidade, eu sou absoluto, e você maninho esta aqui, não por acaso, de
cidadão de bem você não tem nada, tu deve e sou eu que vou cobrar.
A morte meu caro é apenas um
estágio, eu sei pelos autos que você traiu a sua esposa, você andou com
prostitutas, você teve casos com transexuais, você sonegou imposto, você
dirigiu com o celular no ouvido, você pegou dinheiro da carteira de outra
pessoa, você indagava sobre a meritocracia falando que pobre deveria morrer,
você furava fila e ademais falava para sua esposa estufar a barriga para passar
na fila de gestante, você pregava a palavra e não cumpria dentro da sua própria
casa, você subornava policiais para não ser multado, você cobrava o dízimo e
não repassava um centavo para os necessitados, você era vaidoso, comprava terno
de grife e carro do ano para se sentir melhor que os outros da sua comunidade,
você traia todos por dinheiro, pregava uma palavra que tu não cumpria. Era um
cidadão que de bem não tem nada. Você é nosso agora. O divorcio não era algo
que tu pregava, mas agora eu te dou, na verdade eu dou para a sua esposa, ela
tá livre de você, ela vai para outro lugar, não vai mais apanhar, ser traída e
não vai pegar doenças de ti, ela vai ser feliz
com o fim da vida dela, aliás ela já está sendo feliz. Você me pertence,
pertence a esse mundo, a dor, que tu sentes não é nada após a minha sentença,
esse homem vestido de mulher não esta aqui por ele ser homossexual e sim por
ele odiar. Os Homossexuais que realmente são cidadãos de bem não vem prá cá. Eu
nunca vi um. Todos que estão aqui é porque andaram com um e depois apedrejaram
ele por casa da sua hipocrisia.
O cidadão de bem é aquele que
realmente é empático, sente a dor do outro como se fosse a sua própria dor, é o
ético realmente, não faz nada para o próprio benefícios amiguinho, agora tu
fala em sua defesa, aqui bandido bom não é o morto, e sim quem morreu, achando
que era bom. – Gargalhadas surgiram nesse momento.
Eu fui me defender, não tinha
advogado, nem um direito, nada. Não tinha direito a um defensor, não tinha
direito a vida, tudo era censurado, nem habeas corpus, meu, eu estava em um
tribunal de exceção, e os direitos humanos? Era um absolutismo total, um
pesadelo de repressão, eu, um cidadão sem os meus direitos. Não é certo.
Em minha defesa pedi perdão a
cada um dos pecados que ele afirmava, e todos aceitaram, o perdão é divino e se
a minha esposa aceitou eu estou redimido, se o fiel acatou o que fiz com o
dinheiro do seu dízimo era por motivo maior, se eu fui um trabalhador que usou
sua panela errado foi por motivos sociais. Riram mais uma vez, eu não tinha
ninguém para me defender. Fui humilhado mais uma vez. E o cara que estava
sentado no trono chamou alguém, fiquei na espreita, esperei que me defendesse.
- Moça do cabelo, ele gritou.
A mulher entrou, logo veio
discursando, entrou com uma história triste, que ela traía o marido por status
sociais, que fazia caridade pra aparentar uma pessoa boa, que dormia sem
remorso, mas que fazia tudo para o bem comum, que ela fazia tudo o que fez para
a sociedade que vivia, ela não se achava culpada e que tinha que falar com
Cristo. Logo percebi que todos que se dizia cidadão de bem estavam sendo
julgado ali e que realmente não éramos tão do bem assim. A sentença dela foi
logo posta, e ela retirada. Não sei o interesse por mim, mas fiquei ali. Ele me
olhou, fitou bem nos meus olhos. – Você não se arrepende do que fez, você é
interessante, é você que diz que a morte com desespero é a melhor punição, por
isso o meu julgamento vai ser severo, aquele que prega a severidade tem que ser
tratado igual.
Levem ele daqui, coloquem ele na
roda da lembrança, a punição dele é ver a sua vida todos os dias, apodrecer
sentindo que a morte não era a libertação, mas sim a forma correta dele
perceber que, ser um ser de bem é sentir a dor do outro, ele vai sentir dor
todos os dias, não vão ser os vermes que vão dar essa dor, mas a consciência
dele que vai lhe proporcionar a dor de não ter feito, de ter julgado, de ser
racista, de ser homofóbico,
de ser machista, de ser um ser podre, vazio. Adore essa gente aqui, eles são o que você sempre gostou! Ele vai
passar muito tempo conosco, ele não se arrependeu de nada, é uma alma minha.
Adoro! Tudo é uma aprendizagem, nada é por acaso.
Francisco Maia.
Assinar:
Postagens (Atom)